Capítulo 3
Memórias
de um herói arrependido
“May Reilly Parker”, dizia a lápide
sobre o solo. “Amada esposa e tia”, seu caixão fora enterrado ao lado de Tio Ben.
“Um caixão vazio”, essa ideia fazia Peter chorar ainda mais. Ele observava ali
ao lado, segurando um pequeno guarda-chuva aberto, mesmo já tendo passado a
chuva. A primeira semana foi muito difícil para ele. Jessica e Rafael ouviam
seu choro do quarto, pois deixaram que ficasse alojado em sua casa, até que
arrumasse outro lugar. Na segunda semana, Peter sumiu por três dias. Quando
voltou, disse que foi arrumar um velório digno para Tia May. Nesse momento
apenas observava as lápides de Tio Bem e Tia May uma ao lado outra. As lágrimas
irrigavam o solo.
- Me perdoe, Tia May. –
ele disse se lembrando de tudo o que passou – Nunca fui muito sincero com a
senhora. Por vezes eu sumia por dias, graças a missões especiais que o Homem
Aranha me trazia. É, Tia May, eu sou o Homem Aranha. Escondi isso da senhora
por toda a sua vida. Talvez já desconfiasse disso, mas eu nunca disse. Eu sou
um idiota. Fui um idiota. “Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”,
não é mesmo Tio Ben? – olhou para o túmulo do tio – Pois é, eu segui essa sua
frase. Vivi como o Homem Aranha e fui fiel à responsabilidade que me foi
imposta. Salvei pessoas muitas pessoas, mas como sempre, não consegui salvar as
pessoas que amava. O senhor, a senhora e Gwen. – Ela havia sido morta anos
atrás numa empreitada contra o Duende Verde. A raiva não havia abandonado Peter
em momento algum, na verdade, apenas cresceu. Lembrou-se de toda sua trajetória
como Homem Aranha. A aranha o picando. Fazendo seu primeiro uniforme. O Clarim
Diário e J.J Jameson com seu mau-humor incrível. As cantadas com Betty Brant. O
dia em que conheceu Mary Jane. Tudo isso fez Parker ser quem ele era hoje.
- Eu te vingarei, Tia
May – virou o corpo e andou em direção a saída do Cemitério. Pensou na
destruição que a Mark VI causou no centro, destruindo dez quadras e matando
todas aquelas pessoas. A morte delas pesava nas costas de Peter e vingança era
tudo o que conseguia pensar. Pensou em M.J que estava longe de toda aquela
tragédia, no Alasca. Ela ligou para Peter na noite passada e isso o ajudou um
pouco. O que importava era que estava bem e voltaria daqui a duas semanas.
Peter mandou que ficasse lá até tudo estar bem e isso iria demorar um pouco. M.J
sentiu toda a tristeza dele, e até mesmo disse que o amava, mas, isso não
adiantou de nada.
O
cenho se endureceu. Sabia o que precisava fazer, mas não admitiu que estivesse
com medo das consequências de suas próximas ações. Ao chegar ao portão do
cemitério, viu um latão de lixo. Levou a mão ao bolso do sobretudo marrom que vestia,
puxando a máscara do Amigão da Vizinhança. Estava rasgada, com um buraco
gigante no olho esquerdo. Ele a observou com desgosto.
-
Está na hora de evoluir. – seus olhos observavam os da máscara. – Se tenho
grandes responsabilidades em meus ombros, está na hora de ser alguém “grande”.
Você é fraco. – amassou a máscara e jogou dentro do latão, virou as costas e
andou em direção a rua. – Eu serei forte.
A noite avançava em
Nova York, e um indivíduo andava com seu sobretudo marrom e um peso de
mergulhador na mão direita. Estava nas docas da cidade. Parou numa pequena
ponte que ficava sobre o mar, tirou o sobretudo e jogou no chão, juntamente com
o celular e a carteira. Puxou o ar e o prendeu quando pulou da ponte, segurando
o peso com ambas as mãos. A água estava muito gelada quando Peter a sentiu. Seu
objetivo era chegar ao fundo o mais rápido possível e retirar dali aquilo que
não via á anos. Batia a perna rapidamente. O peso que estava em sua mão tocou o
chão. Peter tirou uma pequena lanterna que estava em seu bolso. Lá estava.
Aproximou a lanterna e viu o pequeno baú amarrado com dois pesos. Aqueles que
você pega na academia. Estava trancado e ele não tinha a chave, só restando
abrir na força. Foi o que ele fez. Esmurrou o cadeado várias vezes. Os ouvidos
estavam estalando já, devido à pressão da água.
O cadeado cedeu e
quebrou. Abriu o baú e retirou dali uma maleta. Largou o peso e deu um pequeno
impulso para subir, batendo as pernas. Antes de chegar à superfície, viu uma
luz muito forte. Uma mistura de azul, amarelo e rosa que se perpetuou por dez
segundos.
O ar veio de volta aos
seus pulmões quando colocou a cabeça para fora d’água. Tossiu um pouco e tentou
tirar a água dos ouvidos. Olhou para ponte e lá estava alguém que Peter não
esperava ver naquela noite, muito menos em noite alguma. O corpo estava parado
ereto e imponente. Seu traje azul com os detalhes vermelhos de sempre, não eram
comum, sendo feito de moléculas instáveis. Uma pequena “capa” ultraleve, que
era utilizada para planar ao vento, pendia em suas costas. Em seu peitoral, a
caveira aracnídea o observava. Estendeu a mão para Peter, que ainda estava na
água encarando a figura, segurando seu braço e puxando-o para cima.
- Como vai, Peter? – o
Homem Aranha de 2099 quebrou o silêncio. Sua voz era firme e atenta.
- Miguel. – respondeu o
outro Aranha, agora em solo firme. – O que faz aqui?
- O futuro está uma
droga. – ele não fez rodeio indo direto ao ponto.
- Eu sei. – Peter limpava
a boca. Sentia um gosto misto de peixe e areia. – O Homem de Ferro está fora de
controle.
- Não. – retrucou o
Aranha do futuro. – No futuro, o descontrolado é você. Tudo isso graças a esta
maleta que está carregando. – Peter abriu a maleta no mesmo momento. O uniforme
negro simbionte o observava. Era o começo do fim.
Fim do Ato
1
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