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sábado, 20 de fevereiro de 2016

A Rodoviária


Capítulo 3

Rafael observava as nuvens que passavam na frente da lua cheia. Estavam enegrecidas e muito volumosas. “Só pode ser sinal de mais chuvas vindo por aí”, pensou ele. Realmente, todo aquele mês estava sendo de muitas chuvas, e em vários lugares do Brasil, já haviam ocorrido casos de enchente. Olhou ao seu redor e pode analisar com cautela a rodoviária. Não era muito extensa e nem muito alta. Havia apenas um único andar. Todas as paredes tinham vidros, podendo ver tudo lá dentro. Viu um pequeno local de alimentação. Uma grande geladeira onde estava vários tipos de bebidas. Cadeiras e mesas em formato de circulo rodeavam o local. Uma longa mesa continha diversos tipos de salgados e frios. Tudo isso pode ver do lado de fora. Ao lado dessa praça de alimentação, havia várias estantes com doces e outras coisas amostra, sendo que lá ao fundo, pode ver três caixas para o pagamento dos produtos adquiridos ali. Um pouco mais ao fundo, outra saída. Uma porta com sensor automático com vidros diferentes em formato de ladrilho. Gostaria de analisar aquele lugar com mais cuidado, no entanto, não haveria necessidade. Buscava por uma nova vida e não havia porque fazer tal coisa.
         - Tem certeza que está bem? – a moça estava ao seu lado andando em direção à entrada. Olhava para ele com curiosidade. Um sorriso zombeteiro apareceu se formou em seu rosto.
         - Estou sim. – disse retribuindo o sorriso, mas um pouco sem jeito.
         - E qual seria seu nome? – ela perguntou agora retornando o olhar para frente. A porta de entrada se aproximava e ao seu lado estava uma pequena banca de jornal, fechada.
         - Me chamo Rafael. – ele respondeu olhando para trás. Apenas o ônibus deles estava estacionado ali. O motorista já deveria ter entrado.
         - Eu sou a Luna, se te interessa saber. – disse isso, pois ele não retornou a pergunta para ela. Virou seu rosto e encontrou Luna dando uma risada de canto de boca. Ele se sentiu um pouco envergonhado por não retribuir a gentileza. Em sua “profissão”, gentileza era raro e quase inexistente.
         - Desculpe, eu é... – ela o cortou.
         - Por que você tanto olha para trás e para os lados? – virou seu rosto para os lugares que ele olhara anteriormente. Não havia nada de diferente em lugar algum.
         - Não é nada demais. – tentou mostrar firmeza em sua voz – É que não há pessoas no caixa para atender os clientes. Também não há sequer outro ônibus por aqui. Se esta rodoviária é a única parada que a rota tomada pelo motorista permite parar, então deveria ter outros ônibus aqui.
         - Eu também reparei nisso. – Luna fechou o sorriso e um olhar sério tomou seu rosto.
         - Eu não vi funcionário algum aqui. – foi o último comentário de Rafael.
         A porta da frente se abriu automaticamente, da mesma forma que a porta da saída era feita para abrir devido aos sensores de movimento. Um corredor largo apareceu na frente dos dois. Ao adentrar no local, puderam ver diversos vasos com plantas de plástico colocadas em fileira, para enfeitar o ambiente. Três catracas estavam uma ao lado da outra e, à esquerda, uma bandeja preta com diversas comandas dentro, servindo também de alarme caso alguém tentasse sair sem pagar alguma coisa. Não havia nenhum funcionário do local para recebê-los, até mesmo entregar a comanda. Rafael e Luna se entreolharam e ambos deram de ombro. Passaram e receberam um impacto em seus traseiros com a rotação da catraca. Luna deu um sorriso de canto de boca e deu passos à frente de Rafael. Sua bolsa ficara agarrada na catraca e ele tentou retirá-la fazendo mais força do que devia. Seu olhar fora atraído para as costas da ruiva e, posteriormente, para suas nádegas. Como se o tempo tivesse parado, seus olhos analisaram a curvatura que fazia na calça Jeans da moça. Fazia muito tempo que não tinha nenhum contato sexual com mulheres. Convenceu-se que a primeira coisa que deveria fazer era arrumar uma namorada. Seus pensamentos sexuais analisando o corpo da moça logo se esvaíram.
         - Posso perguntar o que você está olhando, Rafael? – o tempo não parou para Luna. Olhava para ele com um sorriso de canto de boca. Ao acordar de seu pequeno transe momentâneo e sexual, olhou diretamente nos olhos dela. Um pequeno sentimento de vergonha tomou conta do rapaz.
         - Me desculpe. – desviou os olhos para o chão – Eu não queria, é...
         - Não perca a palavra, é super normal um homem olhar a bunda de uma mulher. – suas palavras soaram como se os dois fossem íntimos há bastante tempo.
         - Você acha mesmo? – nesse mesmo instante, um homem passou ao seu lado, batendo o ombro em sua bolsa. Imediatamente, armou-se para golpear o indivíduo, mas não foi necessário. O homem de cabelos grisalhos, camisa e calça social, não deu nenhuma atenção ao conteúdo que havia na bolsa. Sentiu um leve cheiro de perfume e julgou ser feminino. Balançava os quadris de forma estranha e Rafael julgou que fosse homossexual. Foi direto para a praça de alimentação.
         - Eu preciso ir ao banheiro. – Luna andou em direção ao banheiro e parou na frente da porta vermelha, que era maior que ela – Quem sabe depois você me conta o que há nessa sua bolsa para ser protegida com tanta veemência. – deu uma piscadinha, puxou a porta vermelha abrindo-a para fora. Rafael semicerrou seus olhos, mas antes de pensar qualquer coisa, seu estômago fez um barulho avisando que precisava comer e foi o que ele procurou fazer. Andou em direção a praça de alimentação.


         A praça de alimentação era deveras pequena. Várias mesas em formato de círculo estavam vazias, sendo que as pessoas ocupavam algumas. Rafael avistou a menina que apareceu naquele sonho maldito. Olhou para ela fixamente. Ela se balançava na cadeira feita de madeira da mesma forma que tinha feito em seu pesadelo. Procurou esquecer aquilo por tempo.
Uma mesa extensa e retangular estava no meio da praça, cheio de salgados, alguns doces, frutas entre tantas outras coisas.
         Rafael pegou um prato branco que estava sob a mesa de alimentos para comer alguma coisa. Após alguns passos analisando os salgados, encontrou o pão de queijo. Ele adorava pão de queijo. Tinham tamanhos razoáveis e ele decidiu pegar dois. Após colocar em seu prato viu o preço num pequeno cartaz que dizia o valor de cada Pão de Queijo. Assustou-se com o preço, pois pelo tamanho daquele salgado, não valeria a pena comer ali. Outro barulho em sua barriga o avisou que precisava comer e não importava o preço. Andou mais um pouco, passando por coxinhas de franjo e queijo, empadas de frango e carne seca, misto quente, pães com mortadela e folheados de presunto e queijo. Dessa vez, olhou o preço antes de pegar o salgado. O folheado de presunto e queijo estava um pouco mais barato que o pão de queijo. Ele pegou um e colocou embaixo da dupla de pães de queijo. Ao chegar à geladeira aberta, procurou algo que não o fizesse perder o sono, como por exemplo, refrigerantes a base de cafeína. Optou por uma caixinha de Toddynho e saiu dali.
         Sentou-se na mesa mais afastada de todos. Ela ficava perto das lixeiras recicláveis e da entrada para a área de compras. Vendiam revistas, bichos que mexiam a cabeça, brinquedos, doces, e até mesmo outros salgados. Mas, realmente, não havia ninguém no caixa que ficava mais à frente. Esse fato ainda perturbava Rafael. O casal de idosos, que outrora os viu dormindo, esperava algum vendedor aparecer, para que pudessem passar os objetos que haviam escolhido comprar e, talvez assim, voltar para o ônibus. Nenhum dos dois parecia com pressa ou algo assim. Rafael resolveu comer seu folheado de presunto e queijo primeiro. Ele tinha uma paixão enrustida por comidas que continham essa dupla. Mordiscou, sentindo que estava crocante e morno. “Está uma delícia”, pensou dando outra mordida generosa no folheado.
         Observou as pessoas que ali estavam. Duas mulheres com vestidos colados e chamativos estavam conversando enquanto comiam misto quente. Uma loira e outra morena. Tagarelavam alto e isso era extremamente irritante. Uma menina gótica estava sentada perto dele, lendo um livro de capa preta.  Lá perto do casal de idosos, estava um homem negro e mais alto que ele, que vestia um terno cinza e camisa social branca. A gravata de cor vermelha estava frouxa em seu pescoço.
         O homem que trombou com ele na entrada, permanecia ao lado da geladeira parecendo decidir o que iria tomar.
         Ao lado dele, estava um homem muito com uma aparência mais humilde. Usava um chinelo azul claro, bermuda preta sem marca e camisa regata branca com uma pequena mancha de suor abaixo da axila. Para completar, um boné vermelho da aba amarela. Rafael não queria julgar ninguém, no entanto, ver aquelas roupas o fez pensar de que bueiro ele havia saído.
         Olhou ao redor e não encontrou o motorista do ônibus. “Milton, Nilton, algo assim”, tentou lembrar o nome do homem, mas não conseguiu. Uma sombra passou por trás de sua cadeira e sentou na cadeira ao lado.
         - Vamos comer?- era Luna que carregava uma bandeja laranja, contendo uma vasilha com salada de frutas dentro. Vários pedaços de morango, kiwi, manga e outras coisas. Ao lado direito da vasilha, uma colher de tamanho médio. Ao lado esquerdo, um pequeno pote contendo leite condensado com algumas folhas de guardanapo sobre ele. Rafael se lembrou que se esquecera de pegar o guardanapo, mas logo faria isso.
         - Já estou comendo. – o folheado de presunto e queijo acabara. Seu próximo alvo era o pão de queijo maior e com a aparência mais apetitosa.
         - Você nem me esperou, não é? – Luna continuava a falar como se conhecesse o homem há muitos anos.
         - Desculpe, mas estava com muita fome. Meu estômago me alertou disso algumas vezes. – passou a mão esquerda na barriga e levou o pão de queijo à boca.
         - Estou brincando, seu bobão. – Rafael não entendia o motivo de se aproximar dele daquela forma. Ele apenas sorriu – Então – prosseguiu ela puxando algum tipo de assunto – De onde você é?
         - Sou de Santos, e você?
         - Sou do Rio de Janeiro, estou voltando para ficar um tempo com meus pais. –
         - Engraçado – comentou ele – Você não tem sotaque de carioca.
         - É verdade – ela sorriu, abrindo o pote de leite condensado, levando à salada de frutas e esparramando sobre ela – Eu precisava estudar em Santos. Ganhei uma bolsa 100% numa Faculdade.
         - Então você é uma estudante. E qual seria seu curso?
         - Jornalismo. – ela levou uma colher com frutas e leite condensado à boca – Eu sempre gostei muito de escrever – dizia ainda mastigando as frutas – papai teria orgulho de mim.
         - Ele faleceu? – perguntou mesmo não querendo.
         - Há alguns anos atrás.
         - Eu sinto muito.
         - Obrigado, Rafael – nada daquilo afetara seu apetite – Mas, e você? O quê faz em Santos? – seus lindos olhos verdes o observavam com curiosidade.
         - Eu? – ele se assustou um pouco com a pergunta. Começou a devorar o outro pão de queijo que faltava.
         - Sim. Você – apontou o dedo para o rosto de Rafael.
         - Eu... – não poderia dizer a verdade – Trabalho com vendas em telemarketing. – essa foi a pior mentira que contou em toda sua vida.
         - Hum. – saboreava sua salada de frutas e o observava com cuidado. De alguma forma – Você não trabalha com isso.
         - Como assim? – Rafael tentou sorrir, mas o nervosismo tomava conta dele.
         - Isso que você ouviu. Você não trabalha com vendas em Telemarketing.
         - Da onde tirou essa ideia? – ele virou a cabeça para o lado engolindo em seco.
         - Pequenos gestos assim, como o que você fez agora. Seu corpo também é bem forte para quem trabalha com telemarketing.
         - Eu não posso ser um operador de telemarketing que gosta de se exercitar? – tentou entrar no jogo dela – Se não sou isso que afirmei ser, qual minha profissão então?
         - Eu diria que você é segurança de alguma coisa. – ao dizer isso, Rafael empalideceu. Olhou para ela com cautela, tentando não dar nenhum tipo de prova concreta daquilo, mas não havia mais jeito – A-há, te peguei. Você é um segurança.
         - Como pode arriscar palpites assim tão facilmente? – Rafael tentou desconversar.
         - Não é tão fácil como você disse. Mas no seu caso, foi muito simples descobrir. – Olhou para ele de forma zombeteira.
         - Fácil? – o mesmo homem que ele julgara ser homossexual, passou na frente dos dois, desviando das cadeiras com seu jeito de andar estranho. Rafael acompanhou com os olhos e viu o homem entrar no banheiro.
         - Está vendo? É por isso que analisar você foi muito fácil. – ela o observava – Você olha para todo mundo com cautela, sempre procurando desviar das pessoas e não ter contato físico com ninguém. Quando esse contato acontece, você olha a pessoa de modo estranho, como se estivesse querendo... – ela parou de falar, seus olhos cresceram como se tivesse descobrindo algo importante – Como se fosse um fugitivo.
         Rafael não gostava quando pessoas lhe perguntavam coisas sobre sua vida pessoal. Acreditava que sua vida interessava apenas a ele mesmo. Seus pais haviam morrido há muitos anos, quando ele ainda era uma criança, e agora seu pai adotivo e chefe, também estava morto. Ele se levantou da cadeira onde estava. Seus olhos ardiam em chamas.
         - Fique com suas confabulações, Luna. – pegou sua bandeja e ia saindo dali – Não tenho tempo disponível para essas besteiras. – ela ia puxar o braço dele, mas todos que estavam no lugar levaram suas atenções para o banheiro. Um grito estridente veio do lugar. O silêncio pairou sobre o local por míseros segundos. O horror e a curiosidade das pessoas tomavam conta do local agora. Rafael olhou para Luna e ambos não oscilaram nenhuma reação. O homem que estava vestido mais simples correu em direção ao banheiro. Não demorou muito até que muitas pessoas fizessem o mesmo. Rafael se desvencilhou do aperto que a mão de Luna fazia em seu antebraço e correu para o banheiro também. Seja lá o que tivesse ocorrido, precisava ver.
         Ao chegar à porta do banheiro masculino, que já estava aberta devido às pessoas que entraram, Rafael se deparou com as duas mulheres com roupas apertadas, correndo para fora do local. Não somente elas, mas também o casal de idosos. A mulher idosa chorava e soluçava. Seu marido a conduzia para fora. Ele viu algumas pessoas que olhavam com horror para o chão. Deu alguns passos e antes que pudesse entrar no círculo, pisou numa poça. Ao olhar para baixo, seus pés pisavam numa gigante poça de sangue. O cheiro de morte estava impregnado no local. Não foi necessário dar mais passos para ver o que estava acontecendo. O homem de terno cinza saiu de sua frente, foi até a pia, trocando os pés e vomitou.
         O motorista do ônibus jazia no chão, inerte. Sua pele possuía um tom mais pálido que o normal. Seu corpo estava dilacerado. Seu braço esquerdo fora cortado em três partes diferentes, e todas elas estavam em diferentes locais do banheiro. As pernas estavam trituradas, como se um enorme Leão as tivesse mastigado. A cabeça estava decepada e um pouco mais distante dali. Seu rosto estava quase deformado, sendo que seu nariz jazia dentro de uma das pias, onde jorrava água sobre o membro decepado. Nilson estava com a barriga virada para cima. Várias marcas de cortes estavam por todo seu corpo.
         Rafael arregalava seus olhos com vontade. Nunca em sua vida havia visto tamanha brutalidade. Quem poderia ter feito aquilo e qual o motivo de tudo isso? Outro fator importante. Como ninguém ouviu aquilo? Ninguém conseguia se aproximar muito do corpo. Era visível que todas as pessoas daquele local estavam horrorizadas, e quando isso ocorre, o tempo de reação de cada um é atrasado. O homenzarrão de boné estava de cócoras analisando o corpo do motorista, como se fosse um profundo conhecedor de anatomia. Ele tocou no peitoral do indivíduo onde estava um grande corte profundo, passando os dedos por toda a extremidade.
         - Que diabos você está fazendo? – disse o sujeito que acabara de vomitar na pia. Era notável que ainda queria vomitar mais.
         - Esses cortes... – começou a dizer ignorando a pergunta do outro indivíduo – Foram feitos por alguma arma extremamente afiada. Um facão, ou qualquer espada muito bem afiada não conseguiria fazer tudo isso perfeitamente.
         - E como você pode entender de cortes perfeitos? – o homem de terno aproximou-se do corpo, com a mão na boca – É algum tipo de serial killer? – o comentário foi extremamente sarcástico.
         - Não deveria fazer piadas num momento desses, amigo. – enfatizou o homem, ainda analisando o corpo inerte – Se você tivesse entrado mais cedo nesse banheiro, todos nós poderíamos estar olhando para seu corpo dilacerado.
         - Como é que é, seu f... – sua frase foi interrompida pelo grito de uma mulher. Rafael olhou para trás e viu a mãe da garota segurando sua bolsa, sem reação. A menina acabara de entrar no banheiro. Sua mãe ainda estava num transe, quando sua filha também soltou um fino grito. Luna, que estava logo atrás de Rafael, correu até a porta e entrou na frente das duas.
         - Senhora, por favor, saia daqui – ela tentou empurrar a mulher e sua filha para fora, mas ela resistia.
         - O que aconteceu, o que aconteceu, o que aconteceu? – as perguntas vinham de forma repetida e descontrolada.
         - Senhora, sua filha está em pânico. Por favor, saia! – Luna olhou para Rafael, como se pedisse ajuda mentalmente. Ele entendeu o recado e foi até as três a passos largos. Percebeu que a ponta de sua bota estava suja com o sangue do motorista.
         - Por favor, o que houve, pelo amor de Deus, alguém me explica, por favor, por favor, por favor... – ela ainda continuava a falar e tentava forçar Luna para trás.
         - Ouça! – Rafael estendeu seu braço, colocando a mão firmemente sobre o ombro da mulher aterrorizada. Pressionou tão forte, que ela esqueceu por alguns segundos o corpo do motorista, olhando fixo para o homem que apertava seu ombro – Escute com atenção o que vou lhe dizer. Acredito que não sabemos muito sobre o que aconteceu aqui. A única coisa que tenho certeza, é que esse assassinato ocorreu há minutos atrás. Agora preciso que saia daqui e cuide de sua filha. – a mulher olhou para a menina, que estava muito mais horrorizada que a mãe. Ela tomou sua filha em seu colo e saiu do banheiro sem dizer nada.
         - Luna – agora Rafael se dirigia à curiosa mulher que conhecera a poucos minutos  - Veja se ela precisa de alguma ajuda.
         - Que merda está acontecendo aqui, Rafael? – embora demonstrasse um pouco de valentia, ele conseguiu ver medo e dúvida em seu olhar.
         - Não sei, Luna. – mas seja o que for, a resposta não está nesse banheiro. Precisamos organizar os pensamentos e buscar a clareza dos fatos. Você está com medo, eu também estou. – segurou em seu ombro da mesma forma que fez com a mulher, entretanto, com menos força – Por favor, Luna.
         Ela olhou dentro de seus olhos e por alguns segundos tudo parou ao seu redor. Não conhecia aquele sujeito, mas não conseguiu dizer um “não”. Ele tinha razão. A parte ruim do medo, é que não podemos deixar que ele domine. Caso isso aconteça, tudo desmorona e não conseguimos encontrar resposta do que fazer.
         - Está bem. – consentiu com tudo o que ele disse. Virou as costas e saiu porta a fora.
         Rafael olhou por sob o ombro. O homem continuava a analisar o corpo do motorista como se fosse um médico legista. Conversava com o outro, que estava de pé, com cara de nojo para tudo aquilo. Aproximou-se dos dois. Ouviu o barulho da porta se abrindo e olhou para trás novamente, pensando ser Luna.
A garota gótica adentrava o lugar, segurando seu livro preto. Olhou bem para o corpo do motorista dilacerado. Espantou-se com tudo aquilo. Ela se aproximou de Rafael.
- O que aconteceu aqui? – sua frase não soou como se estivesse com medo. Pelo contrário, parecia estar mais curiosa do que qualquer outra coisa.
- Eu não sei. – respondeu Rafael, analisando rapidamente o corpo da moça – Aquele cara ali no chão sentado gritou e todos vieram correndo. – se referiu ao homem que havia esbarrado nele. Tinha o cabelo um pouco grisalho e seu tom de pele era meio moreno. Agora ele estava sentado no chão, chorando e soluçando.
O homem de boné que analisava o corpo do motorista olhou direto para Rafael.
- Ligue para a polícia. Eles precisam ver o que esta acontecendo aqui. – Rafael sentiu uma pontada de medo e raiva. Não queria chamar polícia alguma, além de não gostar que ninguém mande que faça qualquer coisa.
- Não tenho celular. – ele respondeu de modo seco fechando o rosto e franzindo a testa.
- Bom, então vá chamar alguém. – o homem continuava dando ordens.
- Quem você pensa que é para ordenar que eu faça alguma coisa? – Rafael respondeu se aproximando dele.
- Meu nome é Marcos e sou bombeiro. Acredito que seja o homem mais preparado aqui para esse tipo de situação. – engrossou a voz ao responder.
- Seu nome ou sua profissão não me interessam. O que me interessa é saber o que aconteceu aqui.
- Senhores! – o homem de terno entrou no meio da conversa sem ser chamado – Eu tenho um celular aqui. Vou ligar para a polícia. – colocou a mão no bolso esquerdo e puxou seu celular. Rafael e Marcos se entreolharam e não responderam mais nada – Bosta. – a atenção foi atraída para o homem de terno – Não tenho sinal nenhum.
- Droga – Marcos respondeu para si mesmo. Olhou para trás e viu o homem chorando e sentado no chão – Hey, por que está chorando tanto assim? Tem gente que não serve para nada mesmo.
- Não deveria falar assim. – dessa vez quem se pronunciou foi a garota gótica. Todos olhanram para ela – Se ele foi o primeiro a entrar e ver o corpo do motorista, não deveríamos perguntar o que ele viu? Afinal ofender pessoas não vai fazer ninguém ir para frente aqui.
Ela tinha razão. Até o momento ninguém havia perguntado nada para o homem choroso. Olharam para ele.
- Quando você entrou aqui. – Marcos começou a falar – O que você viu?
         Ele nada respondia. Só chorava e se contorcia de forma estranha. Colocando as mãos na têmpora e bagunçando o cabelo grisalho. Um silêncio se fez por quase um minuto para ouvirem o que o homem tinha a dizer, mas ele nada falava. Marcos deu de ombros.
         - Eu sabia. – começou a falar após todo aquele silêncio – Esse cara não viu exatamen... – não saberiam o que ele iria dizer nunca, pois um grito foi ouvido e veio exatamente do homem. Ele se levantou em menos de dois segundos, como se tivesse tomado uma injeção de adrenalina.
         - Os olhos, olhos, olhos ele repetia as palavras de forma insana. Babava pelos cantos da boca e seus olhos estavam extremamente vermelhos – Não, não, nãããããão, os olhos, olhos, não – num ímpeto de fúria e loucura, correu até o homem de terno, balançando os braços e gritando de forma gutural. Não houve outra reação senão desviar do louco e foi o que ele fez. Jogou-se para a esquerda. O homem cabeceou com muita força o vidro do espelho, que se desfez em milhões de pedaços. Rafael deu passos para trás ao ver tudo aquilo.
         O sangue desceu da cabeça do homem, que ficou com as pernas bambas. Virou os olhos e caiu no chão, desmaiado.
         Novamente o silêncio surgiu. Parecia que todos haviam cortado as respirações, pois não se ouvia barulho de nada. Rafael, Marcos, a menina Gótica e o Homem de terno, apenas olhavam para o indivíduo que acabara de se auto-flagelar. Marcos foi o primeiro a falar. Levantou-se do chão, limpou as mãos que continham sangue do motorista na própria roupa.
         - Algo muito sério aconteceu aqui. – ele resolveu romper o silêncio. Todos olharam diretamente para seu rosto – Esse sujeito acabou de ter um momento de loucura por algo que ele viu. Isso o torna muito importante. Vou levar esse cara para fora. – agachou e colocou o homem sob seu ombro direito. Parecia que tinha muita força no braço para levantar um homem com tanta facilidade – Você aí de terno, qual seu nome?
         - É...Sou George. – ele ainda não havia entendido nada do que tinha acontecido.
         - Preciso que me acompanhe até o ônibus, George. – ele já dava passos em direção à saída, quando Rafael interveio entrando em sua frente.
         - Isso é uma péssima ideia. – Marcos parou de andar ao ver que tinha agora alguém barrando sua frente.
         - Uma péssima ideia? – continuou a andar, agora para cima de Rafael – Dentro daquele maldito ônibus está a minha bolsa. Dentro da minha bolsa há um Kit de primeiros socorros. Não é uma boa ideia? Salvar a vida de um homem que está sangrando como um boi no dia de seu abate?
         - Não é isso. – Rafael tentou contornar o que o homenzarrão dizia – Se há realmente um assassino nesse local, devemos permanecer juntos. O grupo não pode se separar, caso isso ocorra pode acontecer outra v... – Não houve tempo de continuar. Luna entrou no banheiro as pressas. Sua bochecha direita estava com uma marca vermelha, como se houvesse sido golpeada ali.
         - Rafael. – ela começou a falar, esbaforida – Eu não consegui segurá-la. Ela... Ela...
         - Luna, acalme-se, me diga o que houve. – disse Rafael saindo da frente de Marcos e indo até Luna.
         - Ela voltou para o ônibus. O celular dela não pegava sinal nenhum, então correu para fora dizendo ter outro celular na bolsa de viagem. – falava de forma rápida e sem pausa – Eu tentei segurá-la, mas ela me acertou com dois tapas fortes na cara e correu para fora.
         Não houve tempo para refletir em sua ação. Rafael só pode falar.
         - Bosta.




         Rafael e Marcos saíram disparados pela porta da frente, que entraram mais cedo. Observaram um estranho nevoeiro se aproximando rapidamente. Quando chegaram ao ônibus, viram que tinha alguém perto da janela. Marcos foi o primeiro a subir os degraus, seguido por Rafael.
         As luzes do ônibus estavam todas acesas e o cheiro de coisa nova, ainda permanecia no local. O corredor seguia com suas poltronas em seu devido lugar. Nada havia mudado, exceto pela mulher que estava apoiada sobre o encosto de uma poltrona. Olhando de relance, puderam ver uma bolsa de viagem sob a poltrona onde ela estava com seu torço apoiado. O cabelo loiro permanecia para frente de sua cabeça, extremamente bagunçado. Ela não se movia, nem suas mãos que estavam dentro da bolsa de viagem demonstravam o menor sinal de movimento.
         Marcos se aproximava devagar.
         - Senhora? – ele rompeu o silêncio – Está tudo bem? – não houve sinal de resposta.
         - Precisamos que nos acompanhe de volta para dentro. – Rafael completou – Não é seguro aqui. Precisamos retornar imediatamente. – algo não estava certo, a mulher não respondia, nem demonstrava qualquer reação.
         Marcos, que estava passos à frente de Rafael, parou. Não se moveu por quase dez segundos. Rafael não entendeu o motivo daquilo e andou mais rapidamente para perto do bombeiro. Começou a ouvir um pequeno barulho ao se aproximar cada vez mais.
         - O que é agor...? – a boca de Marcos estava totalmente aberta. Lágrimas desciam de seus olhos e seu corpo tremia muito. Quando Rafael olhou para a mulher, compreendeu o que se passava.

         A parte de cima do corpo pendia sob o encosto da poltrona, sendo que a parte debaixo havia sido arrancada e estava jogada no chão. O sangue descia como se fosse um rio. Mas o pior estava por vir. Rafael viu apenas de relance, mas algo estava em cima dos membros inferiores da mulher estirados no chão. Uma forma grotesca e indescritível devorava suas pernas, como se comesse um frango assado de domingo. As mãos eram disformes, com vários dedos, um maior que o outro. A diabrura parou de comer. Marcos gritou e depois tudo aconteceu muito rápido.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Homem Aranha - Guerra das Armaduras


Capítulo X
O Fim de uma Geração
Parte 2
O campo de futebol do Instituto ficava logo atrás do prédio principal, sendo uma área de divertimento para os mutantes e local de treinamento para futuros X-Men. Uma pequena luz roxa despontou no meio do local e logo se expandiu. Muitas gramas começaram a queimar ao redor, formando um círculo de desolação. Os heróis reapareceram ali no meio do campo com precisão. Kitty realmente conseguira firmar sua técnica e ajudar sua equipe. O esforço que fez fora tanto que ajoelhou no chão e vomitou sangue coagulado. Aparentava o mais forte dos Ketchups de tão vermelho que estava. Sua visão começou a ficar turva e escurecer. Já não havia muita força sobrando. A técnica havia sido utilizada poucas vezes apenas para si mesma, nunca para transportar pessoas. Ciclope ajoelhou-se também, colocando o Homem formiga deitado ao lado dela, que estava desacordado devido aos ferimentos.
         - Obrigado, Kitty. – Ciclope sorriu cordialmente – Agora descanse, nós cuidamos do resto. Fera, cuide dos ferimentos de Kitty e Lang. – mas não obteve resposta. Olhou para Hank McCoy, que por sua vez, olhava para o alto – Fera? – levantou-se e olhou para cima vendo com horror o que se passava. O céu estava repleto de Mark-Sentinelas. Algumas eram maiores que as outras e não importava para onde olhassem, todas estavam ao seu redor. Não sabia como, mas precisavam fugir dali. Ciclope se lembrou dos alunos do Instituto. Todos estavam no abrigo antinuclear e não poderiam fugir dali sem resgatá-los.
         Em poucos segundos, todas as armaduras se direcionaram para o campo de futebol onde todos estavam. Não haveria chances para os X-Men, Homem Formiga e Jaqueta Amarela. Era impossível contar. Um exército de armaduras prontas para matar a todos. Anjo correu em direção às armaduras. Mordeu seu lábio inferior ao saltar e flexionar suas asas para baixo e para cima, alçando vôo. Havia perdido a paciência com tudo.
         - Warren, não! – gritou Ciclope em desespero cortante. Anjo ajeitou sua espada para cortar a cintura de uma armadura que estava parada. Mas, sua espada travou quando chegou ao meio e ficou ali presa. A Mark-Sentinela não perdeu tempo. Flexionou o tronco metálico desferindo uma cabeçada no queixo do mutante alado. Ele ficou zonzo, as asas batiam fora de ordem. A armadura segurou em seu pescoço, fechando seus dedos na traquéia do alvo e esmagando entre as falanges metálicas. Não satisfeito, esmurrou a cara do mutante várias e várias vezes. As forças abandonaram o mutante alado fazendo com que relaxasse seu corpo por inteiro.
         - Nããããããão – gritou Ciclope. A armadura soltou o corpo inerte de Anjo que caiu rapidamente. Ciclope, perdendo a razão, retirou o visor de seus olhos e os abriu olhando para o alto. O raio escarlate de seus olhos saiu ferozmente, acertando dezenas de armaduras ao mesmo tempo. Colossus correu para pegar o corpo de Warren, mas foi surpreendido pelo ataque surpresa de uma Sentinela que o socou na boca do estômago. Cuspiu sangue e foi arremessado para trás atingindo Bobby e Fera que nem tiveram chance de se defenderem.
         Hank Pym puxou outra arma de seu traje, mas dessa vez, uma Shotgun energética. Antes de todo esse alvoroço, ele explicou que aquela arma destruiria qualquer sistema operacional de qualquer computador presente no local. Ele ergueu o cano para o alto, acionou um botão que estava embaixo e a arma foi carregada. Várias armaduras se aproximavam dele, Fera já lutava contra uma Mark-Sentinela atrás de Jaqueta Amarela. Aproximou o rosto da arma fechando o olho esquerdo em sinal de mira. O dedo pressionou o gatilho e um tremendo barulho foi ouvido. O raio azul cruzou o céu e acertou em cheio muitas Sentinelas, entretanto nenhuma delas foi derrubada, pelo contrário, continuavam vindo rapidamente. Hank não entendeu e antes que pudesse pensar no que havia acontecido, foi acertado na mandíbula com um chute perfeito. Seu corpo foi jogado longe. Duas Mark-Sentinelas o seguraram no ar e o levaram para longe. Fera tombou desacordado e foi levado por outras duas Sentinelas. Ciclope destruía uma por uma que vinha em sua direção.
         Kitty se levanta. Observa seu líder totalmente desorientado. Scott Summers apenas gritava e lançava seus raios. Fera e Jaqueta amarela foram levados para longe. Colossus apanhava e batia no que via pela frente. Anjo tentava se levantar. Bobby lançava seus raios de gelo para o ar, tentando acertar as Mark-Sentinelas. Tony Stark estava conseguindo o que queria.
         - Scott. – gritou Kitty e algumas gotas de sangue saíram de sua boca – Não há como vencer, vamos embora daqui!
         - Ninguém derrota os X-Men – vociferou Ciclope atingindo sete Sentinelas que estavam em fileira. O orgulho dele falava mais alto. Ela pensou em lhe responder, mas algo atraiu sua atenção.
         Anjo foi acertado com um murro na cabeça pela mesma Mark-Sentinela que tentara cortar. Ele caiu de costas no gramado. A armadura segurou em cada asa e as arrancou com força bestial. Kitty gritou e prostrou-se no gramado, chorando. Warren gritou e salivou, mas a armadura não parou por aí. Jogou as asas no chão e socou várias e várias vezes o crânio do mutante. Ele se calou e sua cabeça começava a virar uma pasta de sangue e carne. A brutalidade exposta ali era demais.
         Os X-Men estavam derrotados. Súbito, as Mark-Sentinelas pararam de se mover. Bobby se aproximou de Kitty e Colossus fez o mesmo. Ciclope fechou os olhos e colocou novamente seu visor. Sua roupa estava totalmente rasgada e sua respiração estava forte. Aguardava a próxima onda de armaduras, mas não foi o que houve.
         - Eis a queda... – uma voz foi vinha de trás dele, mas não houve tempo de virar para encarar seu algoz. Algo atravessou as costas de Ciclope onde estava o coração, arrancando-o pelo outro lado. Kitty, Bobby e Colossus gritaram. A armadura saiu de seu modo stealth. O coração pairava no centro do punho metálico. A respiração parou – dos fabulosos X-Men. – Tony Stark fechou seu punho estourando em pedaços e muito sangue o coração de Ciclope. O pescoço relaxou e a cabeça tombou para frente. O Homem de Ferro retirou seu braço de dentro do buraco no corpo do líder mutante, que caiu no chão sem vida.
         - Desgraçaaaadoooo – Bobby gritou de forma gutural ao ver seu líder morto no chão. Stark riu, levantou a perna e pisou na cabeça de Ciclope esmagando seu crânio. Kitty desmaiou e Colossus a segurou. Um pequeno momento silencioso surgiu em meio às gotas de chuva que caíam do céu nublado.
         - Amigo grandão – disse Bobby ainda olhando para o Homem de Ferro – Leve Kitty e Lang daqui. Corra o mais rápido que conseguir. Vou usar aquilo. – Colossus olhou para o amigo mutante e entendeu o que significava. Agachou-se, tomou Kitty e a colocou sobre o ombro direito. Pegou Scott Lang e o segurou debaixo do braço. Ao levantar olhou de volta para o companheiro.
         - Adeus, meu amigo. – começou a correr em direção ao portão da frente do Instituto.
         - Adeus. – Bobby respondeu em tom baixo. Uma dor forte em seu peito começou a surgir. A tristeza pelo o que havia de ser feito. Stark e suas Mark-Sentinelas observavam o mutante grandalhão correndo.
         - Sabe, eles não vão escapar. – e olhou novamente para Bobby, mas foi ignorado. O mutante se levantou. Seus olhos estavam fechados, mas Stark viu lágrimas descendo de seu rosto.
         - Zero Absoluto. – o corpo de Bobby começou a brilhar e aumentar de tamanho. O clima começou a ficar mais e mais gelado. Sem qualquer aviso prévio, uma névoa congelou todas as Mark-Sentinelas que estavam mais próximas e a armadura negra de Tony Stark. Súbito, explodiu como se fosse uma bomba de gelo. Todas as armaduras caíram, uma por uma. Tudo ao redor virou o mais puro gelo e se esfacelou em seguida, menos Tony Stark, que se livrou do gelo e, novamente, não houve dano algum.
         - Mutante patético. – as botas propulsoras foram acionadas e ele sumiu nas nuvens.


         A moto Harley Davidson Street 500 se aproximava de seu destino final. Seu dono havia acabado de terminar uma missão de captura na África do Sul. A jaqueta de couro preta e a calça jeans escura estavam sujas de barro. Usava uma bota rasgada e antiga. Sua barba estava por fazer e o cabelo preto comprido e desgrenhado. Quando chegou ao portão do lugar que chamava de lar, se surpreendeu ao ver o portão aberto e muito gelo no chão. Desceu da moto, pegou um pouco de gelo do chão e levou até as narinas. Deixou a moto do lado de fora e entrou.
         O Instituto Xavier estava completamente destruído. O edifício principal e os dois outros secundários estavam derrubados no chão e repletos de gelo. Levantou a cabeça e sentiu um cheiro diferente. Correu até o edifício principal e retirou os escombros da frente. O elevador estava danificado e não poderia ser usado para descer. Fechou seus punhos e três lâminas surgiram por entre os dedos. Perfurou o elevador e levantou com toda a força que tinha. A força daquele homem era tanta que após isso arremessou o elevador longe. Pulou no buraco onde estava o elevador e se agarrou nas paredes descendo rapidamente.
         Não demorou muito até encontrar uma entrada onde levava para o abrigo antinuclear. Retirou suas lâminas da parede e pulou para dentro do lugar. Vários corpos estavam carbonizados entre os escombros. Não houve outra reação senão a mais diabólica raiva. Ao adentrar mais no local, encontrou uma cabeça de armadura. Enfiou suas garras nela e a trouxe até seu rosto para observar melhor. Não havia mais dúvida. Os X-Men estavam mortos e todas as crianças do instituto também. Logan sabia quem era o assassino.
         - Stark...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Homem Aranha - Guerra das Armaduras


Capítulo X
O Fim de uma Geração
Parte 1

Kitty Pride estava sentada no canto direito da enorme sala de aula do Instituto Xavier para Mutantes, ouvindo o tagarelar do Professor Henry McCoy. Ela observava todos os jovens daquela sala com curiosidade. Havia trinta ou mais alunos naquele lugar, Kitty se lembrava de seu tempo estudando ali mesmo, naquela sala. Assistia as aulas do Professor Xavier muito entusiasmada e adorava, logicamente, as bagunças e diversões com seus amigos de sala. Não tinha grandes responsabilidades e ao menos participava da equipe principal do X-Men. Agora, Kitty estava no papel de professora auxiliar de um dos maiores gênios da Terra. Henry McCoy era o X-Men conhecido como Fera. Sua pele era azulada e repleta de pelos azuis. Seu porte era como de um fisiculturista misturado com um gorila. Tanto McCoy, quanto Kitty e todas as crianças que estavam ali eram excluídas da “sociedade comum”, e o Instituto Xavier ajudava os mutantes a não desanimar nunca, além de educar e ajudar em todos os quesitos possíveis. O sonho de Charles Xavier estava enfim completo.
         O Professor McCoy estava explicando a todas as crianças na sala as propriedades e diferenças do fator X presente em todos os mutantes. Ele contava um pouco de sua história com o desenvolvimento do fator X. Quando tinha por volta de vinte e cinco anos, McCoy tentou desenvolver uma fórmula que curasse ou reduzisse as mudanças genéticas que vinha sofrendo desde sua adolescência. Depois de tanto tentar, ele supôs ter chego numa fórmula com cálculos perfeitos e estáveis para a tal cura. Não havia nenhuma cobaia para seu experimento, então testou em si mesmo. Os efeitos de sua mutação pioraram no mesmo instante, causando a mudança da cor da pele, a alteração corporal e o crescimento de pelos. Vendo toda essa mutação, Henry ou Hank, passou a ser chamado pelo codinome Fera.
         Kitty sorria ao ver seu antigo professor explicando com as mesmas palavras tudo aquilo. O tempo havia passado, mas a didática de seu antigo professor não tinha mudado em nada. Um menino levantou o braço timidamente para sinalizar que tinha uma dúvida. Fera parou de explicar e sorriu cordialmente.
         - Pois não, Jimmy. – deixou o giz em cima de sua mesa e se aproximou da fileira do meio, onde estava o tímido menino – Em que posso ajudá-lo?
         - Professor, é...E-Eu tenho...uma, é...dúvida – respondeu o menino que usava óculos e se vestia de forma desleixada. Kitty se lembrou de Peter Parker em sua época de escola.
         - E qual seria sua dúvida, meu rapaz. – Hank levou a mão até o rosto retirando seu óculos quadrado.
         - Sobre, é... Sobre o fator X em nosso DNA. Seria possível, nós... é, sabe... – o menino parou e a sala toda deu risada já entendendo o que viria a seguir. Hank olhou para Kitty e ambos também riram da situação. Cada momento para ela estava sendo incrível.
         - A pergunta seria: Se dois mutantes tiverem relações sexuais e tiver um filho, ele nascerá mutante? É isso? – o menino acenou que sim balançando a cabeça. Algumas outras risadas puderam ser ouvidas, mas o professor ignorou – E a resposta é que muito provavelmente sim. A literatura acadêmica atual diz que existe uma probabilidade de 87,5% da criança ser mutante. Mas ainda há uma possibilidade de nascer um bebezinho “normal”. – ele assumiu novamente um tom de brincadeira – Por que esta pergunta, pequeno Jimmy? Está pensando em ter um filho? – a sala inteira caiu na gargalhada novamente. Uma menina sentada no fundo da sala chorava de tanto rir. Kitty acompanhava os alunos rindo divertidamente.
         Outra mão foi levantada. Dessa vez, era uma menina.
         - Sim, Marrie. O que deseja? – ele cruzou os imensos braços que possuía com certo tom de curiosidade.
         - Professor, eu sou um pouco nova na escola e não entendo algumas coisas. – a mãe da menina morena, de vestido branco e olhos arregalados a havia matriculado seis dias atrás – Eu gostaria de saber quem era esse homem chamado Charles Xavier.
         Se Hank pudesse ficar pálido, isso teria acontecido agora, pois sua expressão de alegria e cordialidade desapareceu como chuva de verão. A pergunta o pegou de surpresa, tal como a invasão de Galactus a Terra anos atrás. Os X-Men tiveram de unir força com o Quarteto Fantástico e o grupo conhecido como Inumanos para deter o Devorador de Mundos. Foi uma batalha árdua e complicada para todos, levando a morte de Charles Xavier que tentou transferir sua mente para a de Galactus. Isso não deu nada certo, mas conseguiram conter toda sua refeição. Hank ainda se sentia culpado pela morte do amigo, julgando ser fraco a ponto de não conseguir salvar ninguém de nada. Charles era mais que um amigo. Um irmão.
         - Ele... – a voz de Hank saiu falha e com pesar – Charles era meu amigo. – seus olhos ficaram marejados, Kitty os pode ver de longe.
         A porta da sala se abriu tirando a atenção de todos que olhavam o Professor com dúvida e até mesmo pena. Um homem alto e imponente entrou no lugar rapidamente. Seus passos eram firmes, como suas vestes sociais, trajando um terno preto em perfeito estado. Seu olhar era sério e, pelo visto, não estava para brincadeiras. Todos observavam as cicatrizes em seu rosto, parecendo um herói de guerra. O homem parou perto de Hank e olhou para os alunos por trás de seu óculos de lentes escarlates.
         - Bom dia a todos. – o Diretor do Instituto começou a falar. Seu nome é Scott Summers, o mutante conhecido como Ciclope. Desde a morte de Charles, ele assumiu a posição de líder dos X-Men e Diretor do Instituto Xavier. A vida o havia endurecido – As aulas estão suspensas por tempo indeterminado. Todos devem dirigir-se imediatamente para o abrigo antinuclear no subsolo. – todos os alunos se olharam e um baixo burburinho começou a surgir.
         - Vão! – Scott aumentou o som de sua voz e sua face se endureceu ainda mais. Os alunos se levantaram, guardando os materiais em suas bolsas e se dirigindo o mais rápido possível para a porta da sala.
         Enquanto os alunos estavam saindo pela porta, aos tropeços, Kitty se aproximou de Hank e Scott que estavam conversando.
         - O que está havendo, Scott? – indagou Kitty
         - Não há tempo de explicar os mínimos detalhes. Mas só para entenderem um pouco, estamos sobre uma ameaça de categoria cinco. – ele virou as costas e andou para a porta – Vistam seus uniformes. Em poucos minutos, estaremos sob ataque.


         Kitty demorava mais do que costume para se arrumar. Seu quarto estava totalmente bagunçado e, naquele momento, não havia tempo para pequenas faxinas. Fazia poucas horas que chegara de viagem e logo lançou suas bagagens sobre a cama do quarto antigo, se aconchegando na poltrona ao lado para descansar por alguns minutos antes da aula que acabara de ter.
         A viagem havia sido muito boa, ela precisava de férias para se recuperar dos últimos incidentes que passara. Participar de missões oficiais pelos X-Men não era nada fácil, pois sempre havia um grande estresse, sem contar na paciência infinita que precisava ter para aguentar seu líder. Ciclope era sempre mandão e reclamava fácil se algo não saía bem feito. Kitty se lembrou da época em que Jean estava viva. Após a morte dela, Scott trancou em dentro si todo sentimento que ainda sentia pela falecida esposa. Ainda sentia pena dele. Kitty resolveu viajar para Madrid e Paris, além de conhecer as lindas montanhas do Peru. Sentou-se na cama e puxou seu smartphone do bolso, para observar sua foto que tirou das montanhas. Ela sentia saudade daquela paz, mas agora tudo voltaria ao normal. Levantou-se e foi até o armário no canto esquerdo da sala. Ao abrir, lá estava seu antigo traje de incontáveis batalhas que participara. Ele estava pendurado num cabide comum e cheirava a mofo. O tecido era perfeito e ela gostava da suavidade que tinha em contato com sua pele. A cor era toda preta, com traços vermelhos pelos braços e no meio do torço.
         Ao retirar o traje do armário, abriu a primeira gaveta e puxou suas luvas vermelhas com detalhes pretos. Por último, abriu um pequeno compartimento na lateral do armário e tirou as botas pretas e um pouco gastas. Jogou tudo na cama e se despiu com facilidade. Andou até a lateral esquerda do quarto, onde pairava um espelho de corpo inteiro. Ela olhou as pequenas dobrinhas que se formavam na cintura e soube que precisava maneirar nas refeições, pois comeu muitas delícias típicas de cada região enquanto viajava. Ela suspirou. Voltou-se para a cama e colocou o traje. Agora estava um pouco apertado nos seios e no abdome, isso a fez se sentir gorda. Colocou sua bota e por fim suas luvas. Foi até a porta e a abriu rapidamente. Olhou para trás, vendo seu quarto e a vida que gostaria de deixar novamente. Talvez, após essa missão, ela voltaria para o Peru, afinal de contas, os X-Men não eram os mesmos. Fechou a porta e adentrou o corredor da mansão, pensativa.
         Quando chegou ao elevador, apertou o botão que o chamava. Não demorou muito até que viesse e abrisse a porta. Ao entrar, pressionou um botão vermelho no canto superior esquerdo, tinha um “X” marcado. Um compartimento metálico apareceu logo abaixo do painel de números dos andares. O leitor de mãos pediu que o passageiro colocasse sua mão esquerda ali para verificação. Kitty deu de ombros, retirou a luva da mão esquerda e a pressionou contra o leitor. Uma luz vermelha piscou duas vezes e uma voz surgiu do alto falante do elevador. “Seja bem-vinda novamente, Kitty Pride”, isso a fez sorrir. A porta se fechou e o elevador tornou a descer.

         O andar que surgiu se localizava no subsolo, ela andou em direção ao corredor em sua frente quando a porta se abriu. A parede, chão e teto eram feitos de uma liga de metal que suportava a radiação de uma bomba atômica, suprimindo seu efeito e dissipando-a. Virou à esquerda do primeiro corredor, passando por uma porta enorme. Aquela era a sala de treinamento. Passou também pela sala de reuniões, mas ela sabia que não estavam lá. Enfim, chegou numa porta redonda com um X enorme e também necessitava de leitura da mão. Kitty já estava sem a luva, estendeu o braço esquerdo e pressionou a palma da mão contra o leitor.
         A porta se abriu girando para o lado esquerdo. O antigo Cérebro havia se tornado uma vasta área de pesquisas para Mutantes e também Inumanos. Era chamada de Sala X em homenagem ao grande Charles Xavier que, com toda certeza, ficaria orgulhoso ao ver tanto progresso da parte de seus “filhos”. A altura da sala era de mais de vinte metros e meio, sendo sua largura desconhecida para Kitty. O lugar era tão grande, que poderia ser colocado todos os cento e vinte e sete alunos ali dentro, e ainda sobraria espaço. Dezenas de computadores e tubos de ensaio estavam ali. Ela passou pela porta observando o centro da sala. O computador cérebro estava rodeado pelos X-Men, mas alguém que Kitty não via faz tempo estava ali. Apressou o passo.
         - O que esse cara está fazendo aqui? – aumentou o tom de voz. Colossus, Anjo, Homem de Gelo, Fera e Ciclope olharam para ela no mesmo instante. Todos estavam vestidos com seus trajes de costume e estavam atrás do homem sentado na poltrona que digitava no computador cérebro – Anos atrás ele veio até nós tentando impor a Lei de Registro de Super-Humanos, vocês se esqueceram disso?
         - Ninguém se esqueceu de nada, Kitty – Ciclope respondeu – Agora se acalme. Precisamos de Hank.
         - É um prazer vê-la de novo, Pride. – Hank Pym, o antigo Homem Formiga e atual Jaqueta Amarela disse em to irônico.
         - Me poupe de seus gracejos, Pym. – anos atrás, Hank e Kitty tiveram um envolvimento emocional. Não acabou nada bem.
         - Eu também estou aqui, Kitty – uma voz veio do painel do computador. Ela apertou os olhos e viu um homenzinho do tamanho de uma formiga, mexendo num pequeno aparato. Ele colocou dentro de uma fissura minúscula do computador. Correu até a beira e pulou. Como um piscar de olhos, o homem estava de volta ao seu tamanho normal. Scott Lang era o atual Homem Formiga e sua amizade com Kitty era grande.     Ela o abraçou e ele retribuiu o carinho com afeto. Bobby, o Homem de Gelo olhou feio para essa cena. Era o ex-namorado de Kitty, mas ainda nutria sentimentos por ela. Quando ela o soltou, pode ver que seus olhos estavam tristes e sem muita motivação. Um sorriso sem graça era tudo o que podia ver em seu rosto.
         - O que houve, Scott? – ela resolveu perguntar. Sentiu que algo muito ruim estava por vir.
- Kitty, eu... – ele retirou o capacete prateado com antenas. A frase falhou ao sair de sua boca fazendo-o pausar imediatamente. Scott Lang era conhecido por seu incrível bom humor e sua esperança que no final tudo daria certo, mas agora...
         - Cassie Lang, a heroína conhecida como Estatura, está morta. – foi Hank Pym que resolveu falar, seu tom era de pesar. Por apenas alguns segundos, ele baixou a cabeça e parou de digitar. Todos os X-Men ali presentes também abaixaram suas cabeças em sinal de respeito – Não somente Cassie, mas também os Novos Vingadores e os Novos Guerreiros. Todos foram mortos.
         Por um momento, Kitty pensou que tudo não passava de uma simples brincadeira. Ciclope era o único que permanecia com a cabeça para cima, mas em silêncio. Mas atrás de seu Visor escarlate, feito de quartzo-rubi, era notável que havia um olhar duro.
         - O que quer dizer com “Cassie está morta”? - olhou para todos ao seu redor e nenhuma resposta foi obtida – Vocês só podem estar de brincadeira comigo.
         - Kitty – Homem Formiga colocou a mão direita em seu ombro – É verdade. Patriota, Wiccano, Hulkling, Namorita, Cassie e todos os outros, estão mortos.
         - Mas... – o gosto amargo da ira veio em sua boca – Quem é que está causando tudo isso?
         - Não temos tempo para papear. – Jaqueta Amarela se levantou, puxou um cabo que estava ligado ao computador e colocou na mão de Ciclope – Ele chegou, precisamos fugir daqui.
         - Não – Ciclope segurou o pulso de Pym – Ficaremos e lutaremos. Vamos acabar com essa ameaça.
         - Está louco? Não temos nenhum poder de fogo para deter tanta... – sua frase foi interrompida por uma explosão no teto da sala. Não apenas uma, mas uma seguida da outra. Escombros caíam rapidamente sobre eles. Ciclope começou a atirar seus raios vermelhos para pulverizar tudo o que caía. Bobby rapidamente transformou sua pele numa camada de gelo forte. Apontou suas mãos para o chão e raios de gelo saíram, construindo um pequeno abrigo para todos ali.
         - Rápido, entrem. – Anjo foi o primeiro a entrar puxando Homem Formiga consigo, Fera que até o presente momento estava calado rugiu furioso e golpeou escombros que caíam. Kitty não entendia o que estava acontecendo e resolveu ficar ali mesmo, enquanto escombros atravessavam seu corpo como se fosse nada. Ciclope foi atingido no ombro direito, rasgando sua veste e deixando amostra seu braço metálico feito de vibranium, causando ferimentos leves em seu torço. Colossus esmurrava com vontade tudo o que via pela frente. Súbito, tudo parou.
         Faixos de luz entraram no lugar todo, mas algo lá em cima desceu com velocidade fora do comum e acertou Colossus no peitoral, sendo lançado em cima de uma pila de computadores. Kitty arregalou os olhos e não acreditou no que viu.      Uma armadura diferente estava agora parada no chão olhando para todos. Sua cor era preta e em seu peitoral, um círculo com luz vermelha. O visor também tinha cor vermelha. Ele começou a dar pequenos passos na direção dos X-Men.
         - É interessante ver tantos insetos reunidos num formigueiro. – disse Tony Stark, abrindo o visor e revelando seu rosto. A barba tradicional estava lá. Os olhos prepotentes também. O sorriso debochado se alargou numa amplitude estranha, mostrando os dentes brancos e em perfeito estado – Eu mal chego e vocês já estão assim? Cheios de medo?
         - Stark? – Kitty respondeu num misto de dúvida e medo – O que você está fazendo? Por que nos atacar assim?
         - O que estou fazendo? – ele abriu os braços metálicos em sinal de dúvida – Não é óbvio, Senhorita Pride? Estou apenas aniquilando todos vocês mutantes da face desse planetinha miserável? – as palavras dele soavam como de alguém que não era daqui.
         - Por quê? – gritou Kitty
         - Não há lugar para vocês mutantes em meu império, poderiam se tornar um problema futuramente. Apenas os humanos serão poupados, para serem escravizados. – o sorriso se fechou.
         - Já ouvi ladainhas demais desse sujeito metido a esperto – Bobby saiu de dentro do abrigo de gelo. Estendeu os dois braços para frente e lançou seu raio de gelo em Stark, acertando no peitoral em cheio. A armadura nem se moveu. Uma névoa branca vinda do gelo que ainda era lançado sobre ele tomou conta de todo seu corpo. Qualquer um recebesse aquele ataque, no mesmo instante congelaria. Uma luz vermelha apareceu em meio à névoa e logo em seguida foi arremessada contra a cabeça de Bobby. Súbito, conseguiu desviar, mas a energia acertou seu ombro direito fazendo com que o sangue descesse. Bobby caiu sobre o joelho esquerdo levando a mão ao seu ombro para estancar o sangue. Grunhiu de dor ao ter de congelar o ombro. O Homem de Ferro deu de ombros. A névoa havia se dissipado de seu corpo.
         - Os guerreiros da terra são tão ingênuos. – suas botas de ferro se acionaram tirando-o do chão. O ataque do Homem de Gelo não o danificou em nada - Agora preciso ir. Um mundo todo para dominar não é uma tarefa tão rápida.
         - Guerreiros da terra? – Ciclope disse de longe – Quem é você?
         - Trouxe um presente para vocês. Um velho e melhorado presente – ele acionou algo em seu pulso e logo dezenas de armaduras começaram a entrar pelo buraco no teto. Não eram armaduras comuns e sim Sentinelas – Essas são as Mark-Sentinelas. Melhoradas com a tecnologia das indústrias Stark. Todas as unidades ataquem para matar. Capturem Henry McCoy e Henry Pym vivos. – as armaduras de cor roxo com prata desceram num único embalo.
         - X-Men, formação de batalha número cinco. – gritou Ciclope assumindo uma posição de luta. Seu talento para liderança era incrível, mas seu orgulho era o contraponto disso. Bobby e Kitty se aproximaram e ficaram ao redor dele. Colossus veio correndo ao encontro deles. Estavam preparados para o embate. As primeiras Mark-Sentinelas desceram para o embate. Anjo alçou vôo para o embate, retirando sua espada da bainha. Fera recuou junto com Hank Pym e Scott Lang. Anjo fez uma investida e, segurando o cabo da espada com as duas mãos, cortou a cintura de uma armadura e decepou a cabeça de outra. Sua espada era feita de Adamantium, a mesma liga metálica de Wolverine. Fez uma evasiva no tempo correto em que um raio vermelho atingiu três Sentinelas, destruindo-as no mesmo instante. Bobby arremessou três lanças de gelo, mas não acertou nada. Mais armaduras desciam sobre o buraco no teto.
         - Lang! – gritou Colossus – Me arremesse ali – apontou para três armaduras que desciam juntas.
         - Agora mesmo – ele pressionou algum botão em seu pulso e no mesmo instante começou a crescer. Com sua imensa mão, segurou Colossus, olhou para o alvo e o arremessou. Ele voou rapidamente e estendeu sua perna para acertar a cabeça da primeira armadura, atravessando-a sem nenhuma dificuldade. Desferiu um soco no peitoral da que estava atrás e segurou a outra, caindo em seguida. Ele a abraçou e pôs debaixo de seu corpo. Todos viram quando Colossus caiu no chão com a Mark-Sentinela que foi esmagada por seu corpanzil metálico.
         Hank Pym puxou um pequeno dispositivo de seu bolso e o pressionou. Uma arma se desenvolveu. Tinha a aparência de uma bazuca. Ele flexionou seu joelho no chão e começou a atirar acertando as outras Mark-Sentinelas que caíram inertes no chão. Todos olharam para cima e não viam mais nada, mas isso não durou muito. Mais e mais armaduras destruíam o teto por inteiro, fazendo com que mais escombros caíssem sobre os X-Men. Mas não apenas isso, sendo que atiravam raios azulados em seus inimigos. O Homem Formiga foi acertado em vários pontos sendo derrubado e gemendo de dor. Ele voltou á forma normal e Fera se colocou em sua frente.
         Ciclope olhou ao seu redor e percebeu que suas chances de vitória ali eram poucas e aquelas Sentinelas não eram as únicas que entrariam. Por mais que aquela sala fosse enorme, ainda era um campo fechado e isso limitava suas ações.
         - Kitty! – gritou ele – Consegue nos tirar daqui com aquilo? – ele citava uma nova técnica que ela ainda estava desenvolvendo.
         - É muito arriscado. – gritou ela em resposta – Não sei se vou conseguir.
         - Não há como vencermos aqui dentro, Kitty. – atirou numa armadura que se aproximava – Precisa fazer isso. Por nós.
         - Eu... – ela ficou sem palavra. Via seus amigos lutando bravamente e ela até agora só observava. Anjo fatiava armaduras em cima. Colossus lutava com quatro delas no chão ao lado de Fera. Bobby arremessava flechas de gelo agora. Até Hank Pym lutava, carregando sua estranha bazuca. Ela precisava fazer alguma coisa – Juntem-se todos! – mas ninguém a ouviu.
         - Juntem-se todos, AGORA! – seu brado foi demasiadamente forte fazendo com que todos a ouvissem. Ciclope pegou Homem Formiga e o colocou em suas costas, para se unir à Kitty. Colossus e Fera se livraram de seus oponentes e correram em sua direção. Anjo desceu dos céus e segurou o Jaqueta Amarela pelo colarinho. Ele não gostou nada disso. – Preciso que todos toquem numa parte de meu corpo. Bobby encostou a palma de sua mão no ombro direito. Fera fez o mesmo. Colossus e Anjo seguraram seu braço. Ciclope e Homem Formiga tocaram em seu pulso. Jaqueta Amarela foi o último segurando a cintura de Kitty.

         - Nós confiamos em você. – ele disse olhando em seus olhos. Ela sorriu preocupada, mas fechou seus olhos. Podia ouvir o som de mais Mark-Sentinelas se aproximando. Ela mentalizou o campo de futebol do Instituto. O lugar era bem aberto e não teriam dificuldade de fugir dali se fosse preciso. Não demorou muito até que todos sentissem um arrepio na espinha e seus pelos se eriçarem. Fecharam os olhos e desapareceram do lugar. As Mark-Sentinelas se chocaram com o chão sem entender para onde seu alvo foi parar. A batalha ainda não havia acabado.