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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Um espelho na noite

     Era uma noite de chuva daquelas. Deitado em meu leito, coberto de vãs pensamentos, observei vagalumes no teto cintilarem uma dança macabra, mas sincronizada. 
      Sem motivo algum, levantei e observei a rua. Já era hora avançada da madrugada, o céu estava negro pelas nuvens raivosas que cuspiam raios. Não havia nenhuma alma viva que ousasse enfrentar aventuras e desventuras que noites como aquela traziam. Desviei meus olhos para o terreno baldio tomado pelo mato alto na lateral direita da casa. Foi quando vi. 
     A criatura estava no meio do mato e me observava com curiosidade. Não posso descrever a princípio suas características pois minh'alma foi tragada por um terror inominável e indiscritivel. Imaginei por que terrível criatura me observava e o que queria. Dinheiro? Já havia acabado quase tudo. Comecei a trabalhar em duas empresas apenas para pagar dívidas de minha esnobe mulher e seus filhos infernais. 
      Levantei meu braço direito para segurar as grades da janela. A criatura repetiu o movimento no mesmo instante. Me assustei por tamanha perfeição em seu movimento copiando o meu, pois reconheci que me analisava com a mais pura atenção. Afinal, qual era seu propósito sombrio? 
      Com o passar de segundos pude começar a ver suas características. Chifres, dentes pontiagudos, olhos penetrantes e um sorriso diabólico. Refleti sobre minha vida e toda a trajetória até hoje. As infinitas ruindades que fiz em nome da empresa, as cabeças que pisei, as vidas que ceifei, corações que quebrei, tudo em prol da empresa. Não, tudo para que eu subisse na vida. 
     Quanto mais refletia, mais deformada e monstruosa a criatura se transformava. Não aguentava mais ver e gritei profundamente de forma grosseira. 
    - Eu desisto dessa valsa infernal - cedi ao medo - Leve me, coma me, faça o que quiser, mas pare de julgar minhas ações pecaminosas com os olhos - era realmente a criatura fazia. 
      No mesmo instante a criatura gesticulava com a boca as mesmas palavras que eu disse, entretanto não saía som algum. Apertei meus olhos e pude ver o que era aquilo.  
     Apenas um espelho. Um espelho macabro, e o que refletia era minha própria imagem. A criatura monstruosa que vi, era eu mesmo, na verdade, o que sou por dentro. O que sou de verdade. 
  


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