Era uma tarde chuvosa comumente do mês de Julho. O dia mais feliz de minha vida? Talvez. Olhava para ele sentado ao meu lado no ponto de ônibus. Seu olhar era misterioso, e estava voltado para um pequeno pedaço de papel que estava em suas mãos sendo dobrado.
Me intrigava o fato de seus olhos serem sempre concentrados no que fazia. Entretanto, o que mais me chamava atenção era seu perfume, um cheiro que me levava ao mais alto paraíso nos braços dos deuses. Durante todos os seis meses passados, eu o observei bem. Suas características eram finas e delicadas, sendo alto, magro, com volume nos braços, olhos azuis, cabelo armado castanho, sua barba tinha a mesma cor do cabelo bem aparada com curvas perfeitas em torno do queixo. No tempo que eu o observei, pude notar que fazia faculdade, sempre pegando o mesmo ônibus e no ponto onde eu esperava com uma única diferença, descendo antes de mim.
Tinha um anel de compromisso em sua mão direita, ato que me deixou triste na época. Tempos depois, o anel havia sumido assim como o brilho em seus olhos azuis. Então, numa quinta feira qualquer, decidi tomar coragem e me sentar ao lado dele no ônibus.
- O-Olá – falei meio desengonçada.
- Oi – respondeu de forma rápida com sua voz firme embora suave.
- Oi – repeti o que ele disse feito uma idiota nervosa. O suor descia em meu rosto – Desculpe interrompê-lo, mas faz tempo que gostaria de saber seu nome.
- Me chamo Gustavo – nem perguntou o meu.
- Muito prazer Gustavo, eu me chamo Fernanda, mas pode me chamar pelo meu apelido.
- E qual seria? - olhou para mim com curiosidade.
- Cabeção – minha intenção era faze-lo ao menos sorrir. Mas ele não apenas sorriu soltando uma gargalhada de forma graciosa. Se levantou dando sinal para descer do ônibus – Foi um prazer conhecê-la “cabeção” e beijou me no rosto. Fiquei vermelha e sem reação, até perder o ponto e acordar do transe tendo que andar uma quadra a mais. Aquele foi um dia simples, mas belo.
Agora, o via sentado novamente no mesmo banco em meio uma tarde chuvosa e eu, o observava com curiosidade dobrando aquele papel. Mais uma vez, tomando coragem, me aproximei mesmo sentada e perguntei:
- O que está fazendo? - curiosa não? Pois é.
- Um balão – me respondeu com um sorriso. Dessa vez me olhara nos olhos – Gosta de origamis?
- Gosto – menti – Embora eu não seja boa com isso.
- Eu lhe ensino – rapidamente falou – Se você quiser é claro.
Apenas assenti com a cabeça. - Se eu não for incomodar.
- Imagina, não irá atrapalhar em nada.
Veio em minha direção, passou suas mãos em cima das minhas e foi tracejando o determinado objeto. Não disse uma palavra até estar perto do fim.
- Sei que você tem me observado – fui pega de surpresa pela resposta e fiquei sem palavras. O que ele iria dizer sobre aquilo? Meu rosto se avermelhara – Pronto – disse por fim terminando o balão.
Pensei em dizer alguma coisa mas suas mãos que estavam sobre a minha passavam por sobre meus braços me arrepiando. Tocara minhas orelhas com as costas da mão e logo em seguida na lateral do rosto. Acariciava me olhando com ternura.
- Eu também tenho te observado – puxou meu rosto. Seus lábios enfim tocaram os meus em uma dança sublime que duraria muito tempo. Um beijo em meio a pingos de chuva que caíam na cobertura do ponto.
Naquele momento pensei comigo mesma. Essa noite será muito mais do que pingos de chuva ou balões de origami.
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