Acho que não preciso contar meu nome, não interessa muito. Afinal de contas, sou um louco qualquer. Mamãe sempre me disse que monstros não existem, sempre discordei disso, eles me perseguiam. Falavam, brincavam, zombavam e sempre estavam presentes quando uma pequena chama de felicidade nascia em mim.
Aos 7 anos, fui morar num asilo. Meus pais foram brutalmente mortos por esses monstros que me perseguiam. Alegaram que eu mesmo tinha os matado, mas eles não sabiam de nada. Após tantos anos preso naquele inferno fui solto para poder seguir minha vida. Fiz faculdade, mestrado, doutorado, escrevi livros, defendi teses, aconselhei pessoas, me casei, tive filhos e nunca mais vi os monstros.
Foram longos anos de paz e prosperidade na minha vida fora daquele lugar. Todo meu passado louco havia ficado para trás. Era um homem novo, feliz e amado por sua esposa e filhos. Mas no fundo, não era o que eu queria. Adoraria ver de novo aqueles monstros, eles faziam me sentir vivo, como uma um êxtase macabro e sem sentido.
Foi então, que um dia qualquer, consegui senti-los de novo, os monstros...
Nos quartos, na sala, no banheiro, no escritório, nos livros eu os ouvia gritando, murmurando, gemendo, rindo, me enlouquecendo. Corri para meu escritório e me acabei em garrafas de conhaque e outras drogas licitas e ilícitas que haviam lá. Fui até a cozinha, rindo como nunca e peguei todas as facas que lá estavam, afiadas ou não, levei todas para o escritório. Esperei sentado em uma poltrona, com uma faca em cada mão, o sorriso aberto em meu rosto.
Adormeci...
Anoiteceu...
Despertei...
Ouvi passos vindo pela escada, segurei firme as facas, o êxtase corria em minhas veias. A porta foi aberta por duas criaturas grotescas e pequenas que corriam em minha direção. Levantei de um súbito e em fração de segundo cravei a faca no crânio da pequena besta, senti o sangue quente jorrando em meu rosto. O sorriso apenas crescia em meu rosto. O outro tentou fugir berrando, era minha vingança por aquelas aberrações terem matado meus pais. Corri atrás dele em passos longos e enfiei a faca em suas costas por entre as escápulas. A fera gritou, esperneou, puxei a faca e perdi a conta de quantas vezes enfiei e retirei a faca de seu corpo.
Peguei as duas criaturas mortas e as levei escada abaixo, coloquei-as sobre a mesa da cozinha. Minha alma pegava fogo, estava tão feliz, tão vivo. Risadas horripilantes saíam de minha boca. Abri a geladeira e só havia suco e refrigerante, urrei de ódio pois aquilo era bebida de crianças. Fui até o armário, encontrei uma tequila e entornei goela abaixo. Um grito me despertara do transe delicioso que a bebida me proporcionou.
Outra criatura maior e mais grotesca me observava com horror, tentando me fazer correr de sua horripilante presença. Não deu muito certo. Fui em sua direção que agora gritava como nunca, segurei em seu pescoço com as duas mãos, ele apenas gemia e se contorcia, a sensação era divina, nunca me senti tão vivo. De repente, apenas senti o murro desesperado que a criatura me dera no rosto. Rolei para o lado , o rosto latejava, eu gemia e ria de forma insana.
O demônio se levantou e correu tossindo, tentando respirar de maneira grotesca. Levantei, peguei a faca e saí desesperado em sua caça. Ele tentava abrir a porta da frente. Segurei pela cabeça e enfiei a faca em seu pescoço, ela não estava amolada, a sensação de prazer foi maior ao sentir que a faca penetrava sua pele vagarosamente.
Vomitava e murmurava algo - A...mor... E por fim parou. O silêncio predominou no lugar. Desmaiei mediante tanto êxtase.
Uma luz branca e forte me fez acordar. Estava em uma sala totalmente acolchoada e percebi que estava preso em algo, uma camisa de força. Eu não conseguia falar nada, havia uma amordaça em minha boca. "Malditos monstros" - pensei - "Me prenderam novamente, mas foi um bom tempo que passei, afinal matei todos os monstros, e consegui minha vingança". Depois descobri que matei era minha família, meus dois filhos e minha esposa.
A loucura havia retornado.
Baseado nos contos de Edgar Allan Poe.
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