Nunca me esquecerei daquela cena, mesmo após tantos anos é uma memória que está bem viva em meus mais terríveis pesadelos.
- Mãe? - buscava palavras dentro de mim, mas acabei dizendo coisas sem sentindo por devaneios de minha idade - O que aconteceu? Por quê está ferida? Vamos para casa por favor, eu não quero mais brincar de madrugada dos mortos. As palavras saíam de maneira estranha, como choro e grito juntos em um único objetivo desesperado. Estava estupefata, minha mãe se tornara um deles? O que eles eram? O terror era inominável.
Ela nada dizia, se aproximava de mim as tropeços como um animal manco e ferido busca seu alimento para sobreviver às duras regras da cadeia alimentar. A íris de seus olhos estavam cinzentas, mórbidas, e ao redor de seus olhos um vermelho tão profundo quanto as pessoas que vira em um documentado sobre substâncias ilícitas. Suas veias estavam grossas e pretas, como se passasse por uma transformação de ser humano para algo não explicável pela confusa ciência.
As roupas eram nada mais do trapos. Dezenas de rasgos eram mostrados em sua roupa, era possível ver os cortes no corpo mediante às inúmeras marcas de sangue. Os seios estavam amostra, o pescoço estava em carne viva como se vários animais tivessem arrancado um pedacinho. Era uma visão infernal para uma criança de 10 anos.
- Mãe, me ouça por favor - não aguentava mais ver aquilo, desesperada gritava cada vez mais alto atraindo a atenção dos outros seres mais próximos. Lágrimas escorriam de meu rosto como um líquido que cai do copo. Agora outras diabruras se erguiam de seu descanso, outras já estavam em pé como em um transe infinito. Eram grotescas em suas aparências vis. Vinham com velocidade, outros se arrastavam e o perigo misturado com adrenalina corria dentro de mim.
- Rápido mãe, vamos correr - mas nada, ela continuava vindo em minha direção com olhos famintos.
Não aguentando mais esperá-la saí em velocidade até seu encontro, uma atitude infantil e insana. Segurei seu pulso com força e puxei para voltar na mesma direção inversa onde não haviam eles por perto. Tinha planejado sair pela entrada onde tínhamos chegado, mas não sabia com exatidão como estava e se haviam os mesmos seres lá também. Mas era um plano furado e que nunca deu certo.
- O que está fazendo mãe? - mesmo com toda aquela aparência grotesca não acreditava que estava morta - Precisamos correr, agora... - Não pude ao menos terminar de responder. Ela se soltara de minha mão pequena e frágil, golpeara me com o antebraço com tamanha força que caí no chão com força. Senti o gosto de sangue fluir em minha boca, meu cotovelo estava machucado. Eram o fim para mim.
Ela subira em cima de mim e tentava agora me abocanhar com seus dentes rachados e sangrentos. Tentava afastá-la com meus braços, mas não tinha força suficiente para tirá-la de cima. Babava e grunhia alto, tentava me arranhar e quase conseguiu, mas não foi eficiente. Não conseguira tocar a unha em meus braços
- P-por favor mãe, não me machuque - minha infantilidade me mostrava que não conseguiria sair daquela situação. Não havia outro jeito além de se entregar. No mesmo instante fechei meus olhos e aos poucos fui perdendo a força.
Crack. Um barulho de ossos quebrando me fez despertar do transe mortal. Minha mãe havia sido arremessada para longe com um chute poderoso na mandíbula, jogando-a para longe de nós. Um homem que agora projetava por cima de mim para me levantar. - Está louca menina? - disse em um rugido feroz - Quer morrer?
Trajava um moletom azul esportivo, com listras laranjas nos braços e na calça. Sua cabeça era desprovida de cabelos, mas seu rosto tinha tanta barba que quase era impossível de ver sua boca. Não demorou muito para dois monstros aparecerem correndo ao seu redor, gritei com medo mas não precisava. Se tem uma coisa que não entendo são movimentos corporais marciais, mas tentarei descrever da forma mais compreensível o ocorrido.
Rodou sua cintura estendendo a perna direita em um chute veloz na cabeça do primeiro monstro que se insurgia pela direita. Mais um barulho pode se ouvir, desta vez no pescoço da criatura que desatou ao chão com força não se levantando mais. O outro veio pela esquerda com urros e gritos de um urso das montanhas, entretanto aquilo não o intimidou. Ajeitou os punhos na altura do ombro, girou a cintura para dentro estendendo o braço direito para um soco com toda a força de seu tronco aplicado no nariz do monstro que estourou no mesmo momento. A fera foi jogada para trás mas ainda não estava morta. Em seu último ataque, o homem do moletom azul disferiu uma pisada na cabeça da criatura que parou de se mover na hora. Aos olhos de uma criança era uma carnificina fantástica.
- Vamos embora daqui garota, esse lugar está infestado de outros - disse o homem que se aproximara de mim em uma velocidade incrível. Despertando daquele calor do momento pude responder.
- Mas e minha mãe?
- Sua mãe é aquela outra que chutei a cara? Foi um belo chute não acha- respondeu me com desdém e sarcasmo.
- Não ouse falar ass... - gritei.
- Cala essa boca - vociferou - Desculpe por salvar sua vida garota. - novamente o sarcasmo. Mais deles se aproximavam e ouvíamos ao longe seus berros.
- Por favor me ajude a tira-la daqui, Não podemos abandoná-la - implorei, mas sem sucesso.
- Já à abandonamos garota - nesse exato momento o homem desferira um golpe em minha cabeça. Colocou-me sobre os ombros. Estava zonza demais para me debater além de estar prestes à desmaiar. Pude ouvir falar as últimas palavras .
- Precisamos correr, estão vindo.
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