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terça-feira, 29 de julho de 2014

A História do Fim do Mundo - 1ª Parte

          Nunca pensei em como relataria todos os acontecimentos vivenciados por mim nesse diário. Um dos dias mais felizes de minha vida se tornaria o pior dia da humanidade. Aqueles que pensam que a história relatada a seguir é mentira ou mera fantasia de criança, tomem muito cuidado, pois serão os próximos a sofrerem as mesmas consequências dos erros céticos que muitas almas que já não estão mais entre nós cometeram. Suas almas não, mas seus corpos ainda andam aqui. 
Para aqueles que não me conhecem me chamo Alice Campbell, tenho 30 anos, sou líder da Resistência da humanidade. Morava em uma cidade chamada paraíso, pessoas alegres, carismáticas, trabalhadoras e que se preocupavam com os outros como uma cidade como qualquer outra deve ser. Não era muito grande, nem muito pequena, era ideal para uma garota de 10 anos como eu naquela época. Uma garota que não seguia muito os padrões que conhecemos, que gostava de brincar de bonecas e sair com as amigas, não eu não era assim. Ficava em meu quarto trancada muitas vezes, adorava livros como os de Edgar Alan Poe e H.P Lovecraft, talvez você esteja pensando que eu era uma garota deprimida ou até mesmo devota de magias antigas por ler esses tipos de livro, mas na verdade era uma garota feliz e amada pelos pais. 
Tudo começou no dia 20 de Dezembro de 2012, a cidade paraíso acordava para mais um dia de normal de trabalhos, afazeres e estudos da população em geral, mas especialmente naquele dia não fui para escola, era meu aniversário e como de costume, a família Campbell fazia algo de diferente nos dias de aniversário. Meu aniversário de 10 anos começou com minha mãe me acordando exatamente 8:10 da manhã, veio até meu quarto e beijou minha testa. Ao abrir meus olhos cheios de sono, pude observar seu sorriso em meio aquele rosto no qual sempre achei afável para com todas as pessoas. Não era muito alta, tinha olhos bem negros e profundos, sua pele era negra como a minha e seu cabelo armado ou mais conhecido como black power se demonstrava cada vez mais vivo e nessa manhã  especialmente usava um vestido rosa claro, um cinto em sua cintura e um sapato preto que eu sempre dizia à ela que combinava com sua com aquele cinto. 
- Bom dia bela adormecida. - disse ela sorrindo - Acho que hoje é aniversário de alguém não é? - e riu  
- Acho que é sim mamãe - disse eu bocejando - Será que é o meu? - entrei no ritmo de sua brincadeira sorrindo. 
- Mas é claro, nossa mascote faz hoje 10 aninhos e estou louca para fazermos mil coisas hoje - me abraçou com seus braços lisos e amorosos. Fechei meus olhos e a beijei no rosto. - Levante e se arrume, hoje nós temos um dia cheio - e saiu do quarto. 
Calcei minhas meias que estavam ao chão e me dirigi até o banheiro onde pude ver meu cabelo Black Power todo bagunçado, ao invés de arruma-lo preferi tomar um banho bem quente para abaixar. Após me arrumar pude perceber uma pequena dormência em meu pescoço, "acho que dormi de mal jeito" pensei enquanto me arrumava para meu dia cheio de aventuras e lembranças boas, pelo menos era o quê eu esperava. Ao descer as escadas para cozinha, pude ver meu pai sentado lendo seu jornal Paraíso Agora  fumando seu cigarro favorito Downhill sem se preocupar com a vida. 
Diferentemente de nós duas, meu pai tinha a pele branca caucasiana, um cabelo crespo marrom, utilizava óculos que mamãe sempre dizia que o deixava mais inteligente do que era. Assim como todas as manhãs de dias da semana, ele usava sua camisa polo branca com sua bermuda preta esportiva pois jogava tênis sempre antes de ir trabalhar em sua empresa de suportes para telas de computador em mesas de escritório. A cozinha estava repleta da fumaça de seu cigarro favorito, mamãe detestava aquilo e eu também. 
- Feliz aniversário minha princesa. - disse ele com uma animação expressada pelos pais ao saberem que seus filhos fazem aniversário. Veio até meu encontro, se abaixou e me abraçou com afeto. - Quero ver minha princesa crescendo cada vez mais forte - continuou ele - forte como o papai. 
- Obrigada papai - respondi, apertei meu corpo junto ao dele, eu amava papai. 
- Agora venha, sua mãe fez seu waffle recheado favorito - colocou a mão em minhas costas e me deslocou até a mesa onde estava o prato e seu jornal. 
     - O que nós iremos fazer hoje papai? - perguntei com entusiasmo - Vamos á algum lugar em especial? 
- Você e sua mãe irão, o papai vai para o jogo de tênis e depois irá almoçar com vocês. - respondeu ele pegando sua bolsa esportiva que estava na lateral da mesa no chão. 
     - Então você não virá com a gente? - perguntei um pouco frustrada, pois afinal era meu aniversário e queria passar o dia todo com minha família reunida. 
- Não vai dar minha princesa, mas olha, na hora do almoço estaremos comendo junto em família, agora o papai vai indo. - deu um beijo em minha testa e saiu pela porta da frente, mal sabia eu que aquela era última vez que veria meu pai. 
Após um tempinho mínimo onde minha mãe estava fechando a casa, entramos no carro e saímos em direção á desconhecida surpresa que seria feita para comemorar meu aniversário. Precisamos parar na lojas de antiguidades pois minha mãe iria pegar um relógio antigo que tinha encomendado para sua coleção, ela gostava de colecionar relógios, nossa casa era cheia deles. Ao voltar para o carro resolvi perguntar para minha mãe o por que de papai não ir conosco. 
- Filha, não fique triste com isso, você sabe como seu pai gosta de praticar aquele esporte, logo ele estará conosco e vamos poder nos divertir muito nesse dia tão especial. - respondeu ela, aquilo não me deixou satisfeita, pois queria meu pai comigo o tempo todo naquele dia. 
Passamos por alguns quarteirões repletos de enfeites natalinos e eu olhava para as pessoas que passavam, observava seu cotidiano, as coisas que faziam, algumas com aparência muito boa, outras com aparências mais tristes e eu não conseguia parar de pensar em papai, mas mantive aquilo em silêncio ao invés de perguntar ou comentar algo com minha mãe. 30 minutos de nossa aventura surpresa e chegamos no Stardust Shopping Center, o lugar que eu mais gostava na cidade, aquilo me deixara muito feliz pois fazia tempo que não íamos naquele lugar. Descemos para o estacionamento no sub-solo onde minha mãe estacionou o mais próximo possível da entrada que pode, o lugar estava repleto de carros pois as pessoas estavam na correria das compras de natal. 
Subimos de escada até o primeiro andar, minha mãe gostava de apostar quem chegava primeiro e logicamente eu ganhava sempre. Ao chegarmos no primeiro andar olhei diretamente para o lugar que mais amava naquele shopping, a livraria "Leitores Apaixonados". Sorri e pedi para minha mãe se podia ir ver alguns livros. Ela me disse que eu poderia e que ia até mesmo comprar alguns livros para mim como presente, aquilo me deixara muito animada e já ia me dirigindo até a entrada quando senti uma necessidade de ir ao banheiro. 
- Mãe, será que antes eu poderia ir ao banheiro? Estou com um pouco de vontade. - disse. 
- Tudo bem, vou ficar te esperando aqui na frente da loja. - sorrindo, ela me respondeu. 
- Te amo, mãe. - senti vontade de dizer á ela, talvez você me ache meio carente mas acredite, foi bom ter dito aquilo, pela última vez. 
Segui em direção ao banheiro das mulheres mais próximos, atravessei o corredor em direção a porta, pude observar dois extintores de incêndio de cor azul, nunca havia visto extintores daquela cor. Ao entrar no banheiro vi que havia apenas eu e outra mulher que estava em sua cabine fazendo suas necessidades, adentrei na cabine ao lado e arriei minhas calças para poder me sentar no vaso sanitário. Fiquei presa em meus pensamentos imaginando quais livros eu iria escolher, mas eu sabia que seriam de terror. No mesmo instante ouvi uma forte batida na porta seguido por passos pesados e um grito que mergulhou minh'alma em trevas abissais. Não sabia o que havia acontecido e estava com muito medo do que havia ocorrido. Subi minhas calças e abri a porta o mais devagar possível, a cena que relatarei a seguir é apenas para aqueles corajosos que não tem medo de ler sobre coisas que nem o maior de todos os pesadelos o faria sentir.  
A mulher que estava ao lado de minha cabine agora estava no chão, inerte, sem vida. Seu pescoço jorrava sangue como nunca vi antes, e em cima dela, mordendo e devorando sua carne estava outra mulher com cabelo bagunçado, negro como a noite e cheia de sangue. Aquele ser infernal percebeu minha presença, e foi a primeira vez que vi um deles. Ela se levantou e pude ver que aquela diabrura não era normal, seus olhos eram cinzentos não estavam em órbita, a parte lateral de sua boca estava aberta em um sangue que não parava de jorrar demonstrando dentes ensanguentados e sua roupa totalmente rasgada mostrando seu corpo ferido em inúmeras partes. Naquele momento eu ainda não tinha me dado conta, que havia começado o fim do mundo. 

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